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Legado de Augusto Bonequeiro: Mestre da Cultura Cearense Deixa Vazio Insubstituível

Por Redação FutCeará em 04/11/2025 10:52

O cenário cultural cearense se despede de uma de suas figuras mais emblemáticas. Augusto César Barreto de Oliveira, artisticamente conhecido como Augusto Bonequeiro, faleceu aos 74 anos. Nascido em Pernambuco, mas profundamente enraizado no Ceará, ele construiu uma trajetória de mais de quatro décadas, dedicadas ao humor e à arte da ventriloquia, sendo amplamente reconhecido como o precursor do teatro de bonecos na região.

Sua saúde, já fragilizada pelo diagnóstico de Parkinson desde 2013, sofreu um agravamento significativo após a pandemia de Covid-19, culminando em sua recente internação e, consequentemente, no encerramento de sua carreira nos palcos. A partida de Augusto Bonequeiro representa uma lacuna para o humor e para as artes cênicas, mas seu legado permanece como um pilar da identidade cultural do estado.

O Pioneirismo e a Fundação de um Legado

Augusto Bonequeiro não foi apenas um artista; ele foi um visionário. Ao fundar o Grupo Folguedo, ele trouxe para Fortaleza uma forma de teatro de bonecos popular que era, até então, inédita na cidade, antecedendo a formação de grupos contemporâneos. Por doze anos, o coletivo prosperou, encenando mais de vinte espetáculos e realizando quase três mil apresentações que cativaram plateias em todo o Ceará e em festivais renomados.

Sua contribuição transcendeu o palco. Augusto Bonequeiro desempenhou um papel crucial na organização e formalização da cena do teatro de bonecos no estado. Ele foi o idealizador do Núcleo Cearense da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos, uma iniciativa que fortaleceu os laços entre os artistas e as instituições públicas. Sua liderança foi reconhecida com mandatos como presidente e vice-presidente do núcleo, além de sua atuação como professor de mamulengo, compartilhando seu vasto conhecimento com novas gerações.

Em parceria com Zilda Torres, sua ex-companheira, ele deu vida à Casa de Bonecos. Esta escola de teatro tornou-se um berço para novos talentos, ensinando a arte de manipular e dar vida aos personagens, garantindo a perpetuação de uma tradição que ele tanto amava e cultivava.

Maestro da Arte e Defensor da Cultura Cearense

O reconhecimento formal de sua importância veio em 2022, quando Augusto Bonequeiro foi oficialmente consagrado como Mestre da Cultura pela Secretaria de Cultura do Ceará (Secult-CE). Este título selou seu status como uma referência incontestável, não apenas no humor, mas também na arte do teatro de bonecos, solidificando seu nome na história cultural cearense.

Sua carreira, marcada por um humor inteligente e pela maestria na manipulação de seus personagens, o elevou a um patamar de admiração por colegas e público. Em um gesto de solidariedade e reconhecimento, um show beneficente foi organizado em setembro de 2024 pelo amigo e também humorista Lailtinho Brega, na Arena do Humor, evidenciando o carinho e o respeito que a comunidade artística nutria por ele.

Para uma visão detalhada de sua impressionante trajetória, considere os seguintes marcos:

Aspecto da Carreira Detalhes
Anos de Atuação Mais de 40 anos
Existência do Grupo Folguedo 12 anos
Número de Espetáculos Mais de 20
Total de Apresentações Quase 3.000 (no Ceará e em festivais)
Número de Bonecos Criados Mais de 300

A Luta Silenciosa e a Resiliência no Palco

Mesmo após o diagnóstico de Parkinson, Augusto Bonequeiro demonstrou uma resiliência notável, mantendo-se ativo nos palcos. Quando a doença começou a afetar sua fala, ele, com seu característico bom humor, atribuía a dificuldade ao seu boneco mais célebre, o Fuleragem, transformando a adversidade em mais um elemento de sua performance. Essa capacidade de rir de si mesmo e de integrar sua condição à arte é um testemunho de sua paixão inabalável.

Contudo, os últimos tempos foram de maior reclusão. Com a necessidade de internação, o artista precisou pausar definitivamente sua extensa carreira, deixando uma lacuna que seus mais de 300 bonecos, agora em silêncio, não poderão preencher. Cada um desses personagens, como Encrenca, Filó, Cassimiro e Salomão Chibata, era uma extensão de sua alma, uma voz para suas ideias e um veículo para sua arte.

O Vasto Universo de Personagens e a Despedida

Augusto Bonequeiro não se limitou a um único personagem; ele criou um universo inteiro. Além do icônico Fuleragem, que se tornou quase um alter ego, ele deu vida a uma vasta galeria de mais de trezentos bonecos. Cada um deles possuía personalidade própria e contribuía para a riqueza de suas narrativas, marcando profundamente sua carreira e a memória de seu público.

A partida de Augusto Bonequeiro encerra um capítulo fundamental na história cultural do Ceará. Sua obra, seu pioneirismo e sua dedicação à arte do teatro de bonecos e ao humor solidificam seu lugar como um verdadeiro Mestre. A comunidade artística e o povo cearense perdem um ícone, mas o legado de Augusto Bonequeiro, com seus bonecos e suas histórias, viverá eternamente na memória e na inspiração das futuras gerações.

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