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Ceará: O Potencial Inexplorado das Ferrovias para Trens Regionais de Passageiros
Por Redação FutCeará em 30/11/2025 07:06
O Ceará possui um vasto legado ferroviário, marcado por mais de 600 quilômetros de linhas férreas que, atualmente, jazem em desuso. Diante desse cenário, uma proposta promissora emerge do debate entre especialistas: a reativação estratégica de parte desses trechos para o transporte de passageiros, visando a interligação de municípios distantes por meio de trens regionais. Essa perspectiva foi amplamente discutida e endossada por profissionais da área durante a Expolog ? Feira Internacional de Logística, evento realizado recentemente no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza.
Essas vias férreas, oficialmente classificadas pela Ferrovia Transnordestina Logística (FTL) como "malha não operacional", representam uma parcela significativa dos mais de 3 mil quilômetros de infraestrutura desativada sob sua concessão em cinco estados do Nordeste. A FTL, por sua vez, já manifestou reiteradamente seu desinteresse em reativar esses segmentos. Enquanto isso, o Tribunal de Contas da União (TCU) analisa o processo de renovação antecipada de sua malha operacional ativa, que abrange 1.237 quilômetros conectando Fortaleza a São Luís, no Maranhão.
Oportunidade para Trens Regionais no Ceará
Apesar do abandono e da progressiva deterioração das linhas férreas que compõem a malha não operacional da FTL, o Brasil demonstra um movimento crescente em direção à revitalização de sua infraestrutura ferroviária. Lilian Campos, superintendente de inteligência de mercado da Infra S.A., empresa pública vinculada ao Ministério dos Transportes, revela que o país conta com 13 projetos de trens regionais de passageiros em desenvolvimento, todos na fase de estudo técnico.
Esses projetos buscam justamente aproveitar trechos ferroviários inativos ou subutilizados. No contexto cearense, um estudo específico está em andamento para a criação de uma ligação entre Fortaleza e Sobral, utilizando uma seção da malha operacional da FTL. Paralelamente, avalia-se a implementação de um Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) que conectaria Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte, na região do Cariri.
"Temos atuado fortemente em renegociações e repactuações. Existe a discussão de que alguns desses trechos podem ser convertidos, por exemplo, para transporte de passageiros, para serem reutilizados. Tem um cálculo que está sendo feito sobre os custos dessa devolução, e em breve devemos ter boas notícias sobre o destino da malha não operacional", explicou Lilian Campos durante o evento.
Investimentos e Desafios da Conectividade Ferroviária
A Infra S.A., sob a égide do Ministério dos Transportes, é a responsável pela condução do Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) referente ao trem de passageiros entre Fortaleza e Sobral. O custo estimado para essa análise detalhada é de R$ 2,3 milhões, um investimento crucial para determinar a exequibilidade do projeto.
Atualmente, o Ceará possui apenas três sistemas ferroviários em operação para passageiros que interligam cidades ou áreas metropolitanas, todos sob a gestão da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor):
| Sistema Ferroviário | Cidades / Regiões Atendidas |
|---|---|
| Linha Sul | Fortaleza ? Pacatuba |
| Linha Oeste | Fortaleza ? Caucaia |
| VLT Parangaba-Mucuripe | Fortaleza (integração urbana) |
Fernanda Rezende, diretora-executiva da Confederação Nacional do Transporte (CNT), sugere que a ferrovia desativada entre Fortaleza e Crato poderia ter um destino semelhante aos VLTs de Arapiraca, em Alagoas, e Campina Grande, na Paraíba, aproveitando-se de parte da malha não operacional. Essa abordagem representaria uma solução prática e economicamente viável para a mobilidade regional.
Viabilidade Econômica e Velocidade dos Trens
Ainda de acordo com Fernanda Rezende, um dos pontos críticos para o sucesso de um trem de passageiros em análise é a sua velocidade. O sistema "precisa ser mais rápido" do que as locomotivas tradicionais, especialmente para justificar os custos operacionais e atrair usuários. A especialista ressalta a importância de um estudo aprofundado sobre a demanda e a capacidade financeira dos futuros passageiros.
"Às vezes se faz um trem de alta velocidade e o custo acaba inviabilizando a operação. Vai ser um dinheiro jogado fora. Tem que avaliar a demanda, quem são os passageiros que vão ser transportados ali, qual a capacidade que eles têm de sustentar financeiramente o sistema, porque se não fica inoperante", enfatizou Fernanda, alertando para os riscos de projetos mal planejados.
Ferrovias como Eixos Estruturantes da Logística Integrada
Independentemente do foco ? seja transporte de cargas ou de passageiros ?, ambas as especialistas convergem na visão de que as ferrovias devem atuar como "espinhas dorsais" de um sistema de transporte, sendo complementadas e "alimentadas" por modais rodoviários, como ônibus e caminhões. Essa integração é fundamental para a eficiência logística.
Lilian Campos sublinha a relevância da Transnordestina, que está sendo construída justamente para substituir a malha não operacional da FTL. Este empreendimento é visto como o principal eixo estruturante para o desenvolvimento logístico do Ceará e de toda a região Nordeste, especialmente no que tange ao escoamento de grãos, minérios e outros produtos de alto valor agregado pelo Porto do Pecém.
"A Transnordestina é que viabilizará o desenvolvimento dos polos no interior do Ceará e promoverá a conectividade com o Porto do Pecém, que tem esse perfil específico para cargas de alto valor agregado. Temos uma malha rodoviária ampla, e temos promovido investimentos para manutenção e cooperação. Nossa visão é de que todo o sistema de transporte do Ceará esteja conectado com o nacional para dar eficiência logística", argumentou a representante da Infra S.A., destacando a necessidade de uma abordagem sistêmica.
Fernanda Rezende reforça essa perspectiva, classificando o transporte rodoviário no Brasil ? e, por extensão, no Ceará ? como um elemento complementar às ferrovias. Para ela, o protagonismo isolado das rodovias em grandes deslocamentos deve ser reavaliado em favor de um modelo mais integrado e eficiente, onde cada modal desempenha seu papel otimizado.
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