Ceará: Pré-Estação Chuvosa Inicia com Irregularidade Climática e Desafios para Previsão

Com o calendário marcando o início de dezembro, o Ceará ingressa oficialmente em sua pré-estação chuvosa, um período que antecede a quadra principal de precipitações, que se estende de fevereiro a maio. No entanto, a expectativa para estes dois meses iniciais é de um cenário pluviométrico marcado pela inconsistência e pela distribuição desigual, um desafio constante para a compreensão e o planejamento regional.

A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) aponta que, para dezembro, a média histórica de chuvas no estado é de 31,3 milímetros (mm). Já em janeiro, este valor tende a subir para 99,8 milímetros. Contudo, a análise dos anos recentes revela uma notável variação tanto na quantidade total de precipitações quanto nas macrorregiões geográficas que mais se destacam em volume de água.

A Ciência por Trás da Inconsistência Climática Cearense

A erraticidade pluviométrica característica deste período encontra sua explicação nos vórtices ciclônicos de altos níveis (VCANs), conforme detalha Francisco Vasconcelos Júnior, diretor técnico da Funceme. Segundo o especialista, estes sistemas atmosféricos são a força motriz primária por trás das chuvas observadas em dezembro e janeiro.

?Eles são sistemas atmosféricos muito rápidos. A gente os caracteriza como transientes, ou seja, é algo bastante variável. Tanto interanual como também espacial?, explica o meteorologista.

Essa natureza "transiente" dos VCANs é o que fundamenta a falta de regularidade espacial das chuvas ao longo dos anos. Os dados recentes ilustram vividamente essa dinâmica imprevisível, onde diferentes áreas do estado alternam-se como protagonistas em termos de volume pluviométrico. Para melhor visualizar essa variabilidade, apresentamos um panorama dos últimos anos:

No ano de 2024, por exemplo, o mês de dezembro registrou uma média acumulada de 27,6 mm, ligeiramente abaixo do esperado, mas ainda dentro dos limites da normalidade. Contudo, o Litoral de Fortaleza se destacou, recebendo 61,5 mm, superando a média histórica do Cariri, que tradicionalmente é a macrorregião com maior precipitação. Já em 2023, a região Jaguaribana foi o epicentro das chuvas, com o dobro do volume previsto para o último mês do ano. No ano anterior, em 2022, foi a vez do Litoral Norte apresentar os maiores índices de precipitação em dezembro.

Variabilidade Regional e a Influência do Cariri

Apesar do histórico de variabilidade, a Funceme ainda não pode oferecer uma projeção precisa sobre qual macrorregião cearense deverá concentrar as maiores precipitações nesta pré-estação. No entanto, o Cariri se mantém como uma área de interesse particular, devido à sua maior suscetibilidade às instabilidades climáticas provenientes do Sul do País.

?Como aconteceu agora, tivemos um evento de frente fria que subiu do Sul e choveu muito forte em Jardim?, relata Francisco.

Além de sua localização geográfica estratégica, a topografia do Cariri, que favorece movimentos ascendentes do ar, é um fator crucial que amplifica a ocorrência de chuvas na região. Esses elementos combinados conferem à área uma dinâmica pluviométrica distinta.

Fatores Climáticos Amplos e Perspectivas Imediatas

É importante ressaltar que fenômenos globais como o El Niño e La Niña, que envolvem o aquecimento ou resfriamento das águas do Oceano Pacífico, exercem pouca influência nas precipitações da pré-estação cearense. O diretor da Funceme esclarece que

?Os sistemas meteorológicos que atuam durante a pré-estação chuvosa no Nordeste, de maneira geral, são diferentes daqueles que atuam durante a estação chuvosa?.

Para o início desta primeira semana de dezembro, as expectativas indicam um cenário de tempo estável, com predominância de sol, nebulosidade variável e temperaturas elevadas em grande parte do estado. Apesar disso, o efeito da brisa terrestre pode ocasionar chuvas isoladas no Litoral de Fortaleza e no Litoral do Pecém, especificamente entre a madrugada e o início da manhã de terça-feira e quarta-feira (dias 2 e 3, respectivamente). Até meados do mês, mais precisamente até o dia 15 de dezembro, o meteorologista antecipa a ocorrência de "algumas precipitações", mantendo um horizonte de cautela para o panorama pluviométrico.