Relembre: Bastidores Inéditos da Novela Nicácio Ceará x Fortaleza 2010

Um dos episódios mais controversos e comentados na história recente do futebol cearense, a transferência do então atacante Marcelo Nicácio entre os rivais Ceará e Fortaleza, conhecida como a "pulada de muro", teve seus detalhes de bastidores finalmente expostos. Em um recente segmento do programa Esportes O POVO, os ex-dirigentes Robinson de Castro, que presidiu o Alvinegro, e Renan Vieira, ex-mandatário do Tricolor, trouxeram à luz curiosidades sobre o que realmente se desenrolou na negociação que envolveu o atleta.

A trama se desenrolou na temporada de 2010, um período de grande disparidade entre os clubes da capital. Naquele ano, o Ceará de Porangabuçu competia na elite do futebol nacional, a Série A, enquanto o Fortaleza, do Pici, lutava na Série C. Foi nesse contexto que Robinson, então diretor de futebol do Ceará, e Renan Vieira, na época presidente do Fortaleza, participaram de um evento em Natal-RN. Hospedados no mesmo hotel, os dois se encontraram, e uma inusitada proposta foi feita: o líder tricolor ofereceu Nicácio ao dirigente alvinegro.

A motivação para tal oferta era direta: o Fortaleza enfrentava severas restrições financeiras que impediam a manutenção do alto salário de Nicácio. O atacante, que havia brilhado intensamente em 2009 com 34 gols vestindo a camisa tricolor, pertencia ao Atlético-MG. Após um complexo impasse envolvendo o Galo e o Figueirense, clube onde atuou no início de 2010, Nicácio chegou a ser formalmente apresentado como reforço do Leão, mas nunca entrou em campo. Seu destino, de forma abrupta, mudaria do Pici para Porangabuçu.

O Encontro Inesperado em Natal: A Proposta Que Mudou Tudo

Robinson de Castro recordou o momento crucial da negociação, destacando a iniciativa de Renan Vieira. "Nós fomos em um evento em Natal e a gente estava no mesmo hotel. O Renan estava com certa dificuldade de caixa, que era algo natural na época, e chegou pra mim e disse: ?rapaz, vocês não querem o Nicácio não??. Eu era o diretor de futebol e o Evandro (Leitão) o presidente. E eu digo ?claro que quero?. O Renan então disse que não iria dificultar. Eu já saí e conversei com o Evandro: ?vamos trazer o Nicácio, fechar logo. O Renan não está com condições de manter o jogador?. Então foi feita aquela troca. Não foi algo que o Ceará chegou lá e tomou o jogador. Foi uma cortesia, vamos dizer assim, do Renan. Nós tínhamos condições e queríamos o jogador?, relembrou o ex-presidente do Ceará.

A perspectiva de Renan Vieira adiciona camadas de complexidade à narrativa. Ele ressaltou as dificuldades financeiras e o processo de contratação anterior do atleta. "Deixa eu fazer uma observação, se não vou ficar em maus lençóis (risos). A dificuldade de manter o Nicácio era grande, mas ele tinha sido apresentado. Foi uma briga grande do Atlético-MG com o Figueirense. Eu até mandei um diretor para falar com o Atlético-MG lá para liberar. O meu sonho era Nicácio e Finazzi, idealizei esse ataque, porque tínhamos que voltar (para a Série B). E aí o salário grande não resolvia. O Robinson viu que eu estava com dificuldade e foi e deu por trás. Quando eu cheguei de Natal, o Nicácio não se apresentou. Desapareceu. Foi pro Ceará?, completou o ex-presidente do Fortaleza.

As Versões dos Mandatários: Entre a Cortesia e a Manobra

A dicotomia entre a "cortesia" mencionada por Robinson e a sensação de "manobra" ou de ter sido "dado por trás" expressa por Renan ilustra a natureza ambígua das negociações no futebol, especialmente entre rivais. Enquanto o Ceará aproveitou a oportunidade para reforçar seu elenco na Série A com um atacante de comprovada eficácia, o Fortaleza viu seu planejamento desmoronar, perdendo um jogador fundamental que havia sido arduamente buscado e já apresentado à torcida. A história de Marcelo Nicácio em 2010 permanece como um marco de como as circunstâncias financeiras e as relações nos bastidores podem alterar radicalmente o destino de um atleta e o futuro de um clube.