Investigação apura manobras financeiras em contrato do Ceará com casa de apostas

Apuração de Esquema Financeiro no Ceará

A Polícia Civil está conduzindo uma investigação minuciosa sobre um possível esquema financeiro envolvendo o contrato de patrocínio entre o Ceará e a empresa de apostas Estrela Bet. O acordo, que foi assinado e posteriormente rescindido em 2023, está sob suspeita de ter sido utilizado para uma operação que resultou na emissão de R$ 45 milhões em notas fiscais frias durante o ano passado.

O presidente do clube, João Paulo Silva, juntamente com outras oito pessoas, é alvo da investigação. Há cerca de dez dias, Silva divulgou um vídeo nas redes sociais, mencionando o vazamento de informações confidenciais da investigação e levantando a possibilidade de uso de documentos falsificados. Uma reunião com conselheiros foi realizada no dia 9, onde João Paulo expôs os fatos, mas segundo alguns participantes, detalhes não foram apresentados.

Detalhes da Investigação e as Notas Fiscais Suspeitas

A investigação, cujos detalhes foram revelados pelo jornal "Folha de S. Paulo", aponta que as notas fiscais emitidas eram canceladas em até 72 horas após serem apresentadas a fundos de investimento como garantia para adiantamento de valores que o clube, na realidade, não tinha previsão de receber. Esse mecanismo, segundo os investigadores, foi viabilizado pelo contrato com a Estrela Bet, o que era expressamente proibido nos termos do acordo. A quebra de contrato resultou na rescisão do mesmo pela empresa em maio de 2023, apenas quatro meses após a assinatura.

Atualmente, o Ceará tem como patrocinador máster outra empresa do mesmo setor, a Esportes da Sorte. Em uma entrevista, João Paulo admitiu ter emitido e cancelado as notas fiscais, mas nega qualquer irregularidade na operação. No entanto, o relatório dos investigadores indica que o Ceará realizou 40 termos de cessão de crédito em 2023, a maior parte deles com três fundos da gestora CVPAR, que não está sendo investigada. A operação funcionava como uma espécie de empréstimo, onde a empresa antecipava valores ao clube cobrando uma taxa, utilizando uma nota fiscal de um valor que o clube supostamente receberia da Estrela Bet, que era posteriormente cancelada.

Acusações e Repercussões

A antiga patrocinadora alega que o Ceará cometeu um ato ilícito, justificando assim o rompimento do contrato. João Paulo Silva e os outros oito investigados são suspeitos de formação de quadrilha, apropriação indébita e lavagem de dinheiro. As consequências dessas investigações podem ser graves para o clube e seus dirigentes.

João Paulo Silva foi reeleito presidente do Ceará em 28 de novembro, depois de um mandato-tampão de um ano e meio, que se seguiu à renúncia do ex-presidente Robinson de Castro, em fevereiro do ano passado. O clube alcançou vitórias importantes em 2024, conquistando o título cearense e garantindo seu retorno para a primeira divisão nacional em 2025, após terminar a Série B em quarto lugar.

A Defesa do Presidente e Alegações de Perseguição

Em sua defesa, João Paulo Silva declarou: "Desde que assumi o clube, eu venho sendo atacado por pessoas que não querem uma construção de união no Ceará. Em 2 de dezembro fui procurado por um repórter da imprensa nacional, falando sobre um inquérito policial que está sob segredo de justiça e que meus advogados não tiveram acesso. Inclusive, sustento que esse inquérito pode estar sustentado por documentos falsos", afirmou em vídeo divulgado nas redes sociais há dez dias.

O caso segue em investigação e levanta sérias questões sobre a gestão financeira de clubes de futebol e a necessidade de maior transparência em contratos de patrocínio. As próximas semanas serão cruciais para o desfecho deste caso que tem grande impacto no cenário esportivo nacional.